FUNAAD - Manaíra - PB

Fundação Antônio Antas Diniz

Cultura, Educação, Ética, Fraternidade, História, Ação Social

   IRERÊ - Patos, Patos de Princesa, Patos de São José de Princesa - PATOS IRERÊ
INÍCIO
Parahyba
Famílias

Revolução

  de 1930

O Casarão
Cangaceiros

 

As Famílias

Patos de Princesa, Patos de São José de Princesa, Patos Irerê... Patos, inicialmente!

Joaquim Rodrigues veio de Florença, na Itália. Chegou de navio ao Brasil e desembarcou no porto do Recife. Tem alguns complementos de sua história que seguem mais por deduções prováveis. “Florentino”: por ser natural de Florença, ou por ter vindo de lá? “Trazendo consigo considerável riqueza”: por conta dos altos investimentos que fez na criação de Patos: terras, cultivo e construções. “Marinheiro”: pelo fato de trabalhar em navios, ser da marinha ou, simplesmente, ter vindo de navio. “Não se sabe se veio com a esposa ou se se casou no Brasil”: devido à existência de filhos, tinha que ter uma mulher... . “Veio com seus irmãos”, porém não se tem quaisquer relatos sobre eles.

Também não se sabe como teria chegado ao vale fértil da região de Patos, como a descobriram ou como se locomoveram até aqui. Em toda aquela região havia somente três moradores, dos quais se citam dois nomes: João Paulo e o outro Tião (Sebastião) - de sobrenome Martins. Quando souberam que eles viajaram pelas águas, começaram a apelidá-los de “patos”. A região absorveu o “nome”, e começaram a chamá-la Patos. Juntamente com Marcolino Lima - pai do coronel José Pereira Lima - construíram Patos.

Joaquim “Florentino” teve os filhos Floro, Marçal, Laurindo, Quinzim e Joaquina, que receberam o sobrenome “Florentino Diniz”. O sobrenome Rodrigues “desapareceu” e “nasceu” o Diniz... Alguns compraram patentes militares e passaram a usar os nomes: “major” Floro, “major” Laurindo, “coronel” Marçal. Quinzim talvez fosse uma abreviatura diminutiva de “Joaquim Filho”: Joaquinzinho, Quinzinho. Ele não comprou patente, mas se tornou muito conhecido por ter sido o pai do Padre Floro.

Joaquina Florentino tinha o apelido de Joaquinina. Casou-se nos Patos com o português João Antas Ferreira, dando início ao grande ramo da Família Antas, no sertão paraibano.

PATOS, DE GLÓRIAS E DE RUÍNAS

Rapadura, mel de engenho, açúcar mascavo, álcool, vinho e cachaça eram alguns dos produtos da usina da família. De Recife chegou o químico que preparava as fórmulas para tudo. Vinham de lá – fora a carne que era local - os tecidos, chapéus, medicamentos, perfumaria, ferramentas e tudo o necessário para abastecer as necessidades regionais. Os consumidores eram de Princesa, Triunfo, São José, Manaíra, Tavares e tantas outras comunidades. Também de Recife vieram empregados especializados em tão modernos serviços que ali eram ofertados. Depois de Recife, foi o primeiro lugar no Nordeste a ter energia elétrica. A capacidade administrativa de Marinheiro, entretanto, não conseguiu dar conta de tantos desafios e seus empregados armaram um sistema de desfalque tão grande que, quando percebeu, Joaquim estava na falência. Vieram os credores e levaram tudo o que ele tinha.

Passou a morar na serra do Pau Ferrado, onde era chamado de Quinca do Pau Ferrado. Morreu pobre, de ataque cardíaco, em uma estrada de Vargem da Cruz. Foi trazido de rede, por cerca de 50 homens, que o sepultaram na igreja local de São Sebastião. Ali também estão seu filho Marçal, a neta Alexandrina – Xanduzinha (¹) de Marcolino - e outros pioneiros de Irerê.

Antônio Pereira era irmão de Marcolino e de Xandu “Lima” (²) e casado com outra Xandú (³), sua segunda mulher. Esta organizava novenas, festas religiosas que duravam nove noites. Trazia de Princesa uma banda de músicos que tocava de 10 a 19 de janeiro, em comemoração ao padroeiro, São Sebastião. Os bailes viravam a noite até a manhã seguinte. São Sebastião – protetor contra as pestes -, tornou-se o patrono local, por conta de um surto de varíola que matou muita gente na região, no início do Século XX.

As três “Xandus”

(¹) Alexandrina Florentino Diniz, apelidade de Xanduzinha, era filha do major Floro e irmã da mãe de José Pereira, “Dona Lima.” Essa Xandu, casou-se com o “caboclo” Marcolino Pereira Diniz, seu primo.

(²) Essa, era irmã de Marcolino Pereira Diniz, filha do coronel Marçal, e passou a chamar-se Xandu Pereira, após casar-se com o coronel José Pereira Lima.

(³) A terceira Xandu, era a segunda esposa de Antônio Pereira, cunhada de Marcolino Pereira Diniz.

Marcolino era filho do coronel Marçal; cunhado, primo e sobrinho de Zé Pereira; genro do major Floro – que era irmão do coronel Marçal -; marido de Xanduzinha – que era tia de Zé Pereira -; irmão de Xandu Pereira, ambos sobrinhos do major Floro e, para completar, cunhado da terceira Xandu, esposa de Antônio Pereira. Muito fácil de entender...

Patos Irêrê é berço das principais famílias da região, de regiões circunvizinhas, da Paraíba e dos estados fronteiriços como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. São originários de Irerê, dentre outras, as famílias Antas, Diniz, Florentino, Martins, e Pereira Lima.

Além da povoação de Patos que estava surgindo, com grandes sinais de desenvolvimento e riqueza, havia a cidade de Patos, também na Paraíba. Quando mercadorias, correspondências e pessoas começaram a chegar a destinos trocados, Aluísio Pereira, deputado e filho do antigo coronel José Pereira de Princesa Isabel, onde a pequena Patos estava inserida, conseguiu alterar o nome para evitar os desencontros. Na década de 1960, foi acrescido o nome de um pequeno pato selvagem, de peito avermelhado, encontrado na região, o irerê, passando a denominar-se Patos Irerê. Quando voa, ele emite um grasnado que lembra seu nome: I-R-E-R-Ê

 

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Augusto, Joaquim e Laurindo Antas Florentino, da esquerda para a direita. Júlio, o caçula, não está. Foto cedida por João Alberto Antas Florentino.

São filhos de Francisco Antas Florentino, netos de João Antas Ferreira e bisnetos (pelo lado materno), de Joaquim Marinheiro, italiano que colonizou a região de Patos. Pelo lado paterno, são bisnetos do casal Antas que veio de Portugal.

A Revolução de 1930

O Casarão dos Patos do Coronel Florentino Diniz

   


Em Princesa (Princesa Isabel - PB - 1930), entre um dos mais importantes líderes das tropas locais estava o fazendeiro Marçal Florentino Diniz, poderoso e influente agro-pecuarista da região, que juntamente com seu filho, Marcolino Pereira Diniz, eram parentes e pessoas da inteira confiança do coronel José Pereira. O coronel Marçal Diniz possuía no então distrito de Patos de Princesa, a 18 quilômetros da cidade, uma fazenda localizada no sopé da grande serra do Pau Ferrado, o segundo ponto mais elevado da Paraíba, com cota máxima em torno de 1.130 metros de altitude e foi para esta fazenda que o comando da polícia paraibana ordenou que Clementino Quelé atacasse a casa grande do poderoso coronel. 

A idéia deste ataque visava dividir as forças do coronel José Pereira, que teria de retirar homens da frente de combate de Teixeira, para socorrer os familiares da família Diniz que estavam no casarão, bem como formar com as reféns uma espécie de cordão de isolamento, um escudo humano, que objetivava garantir a segurança dos militares. Pensavam que, agindo assim, nenhum defensor de Princesa ousaria atirar nos combatentes do governo paraibano. 

Outra teoria seria a de levar as mulheres como prisioneiras, ou reféns, para a cidade de Paraíba do Norte (atual João Pessoa) e forçar os comandantes de Princesa a alguma espécie de negociação.

Não havia muitos defensores pertencentes aos grupos do coronel José Pereira, ou de Marcolino Diniz e a força policial de Quelé ocupa o local sem maior oposição. Na casa estavam entre outras pessoas, as mulheres de Marcolino Diniz, Alexandrina Diniz (também conhecida como Dona Xandu, ou Xanduzinha) e a de Luís do Triângulo, Dona Mitonha. Luís do Triângulo era um dos mais valentes e destacados chefes dos combatentes de José Pereira. 

A batalha

Neste intervalo, o grupo de combate comandando por Marcolino encontrou um soldado da polícia de nome Zeferino, o qual seguia com uma mensagem do Sargento Quelé ao Delegado Geral do Estado, Severino Procópio, informando da ação contra o casarão. 

José Pereira e Marcolino Diniz recebem a notícia da prisão de seus familiares. Tomam esta ação como uma afronta, uma falta de respeito e preparam o contra ataque. Ordenam que parte de suas tropas que combatiam as forças policiais do governador João Pessoa na região de Tavares, se deslocasse para Patos de Princesa e ordenam que os homens levem farta munição. Outros combatentes conclamam moradores da região para o ataque, enaltecendo a covardia de Quelé, que usava mulheres como escudos. Este chamamento dos líderes de Princesa e de seus homens encontra eco entre membros das comunidades de Princesa e Alagoa Nova e estes decidem seguir com o grupo que vai retomar o “Casarão dos Patos”.
 

Dentre os participantes do grupo que partiu de Alagoa Nova, estavam presentes Marçal Cosme, Joaquim Rodrigues e outros.
 

Na noite do segundo dia após o bem sucedido ataque de Quelé ao casarão da família Diniz, a situação permanece inalterada. Segundo relatos dos reféns, os soldados, com raras exceções, se portaram de forma vândala e arrogante durante a ocupação. 

Enquanto isso os combatentes de Princesa vão discretamente fechando o cerco ao casarão. Aparentemente, por falta de comunicação com seus comandantes, Quelé não abandonou a posição e levou seus prisioneiros. Outros acreditam que ele logo percebeu que estava cercado e esperou o inevitável. 

O certo é que na manhã do terceiro dia de ocupação, o céu se apresentava nublado, os defensores do casarão estavam tranqüilos, apesar da tensão existente na região. Alguns esperavam o café, outros até jogavam uma improvisada partida de futebol (possivelmente com uma bola de meia), no pátio defronte a casa. É quando o primeiro tiro é detonado em um soldado que vinha do Sítio Pedra e trazia um carneiro para abate, aí tem início um inferno no “Casarão dos Patos”.

A polícia estava cercada na casa, se defendendo como podia, o sargento Quelé vai animando seus policiais em meio a uma intensa troca de tiros e insultos entre as forças combatentes. Marcolino Diniz, à frente dos seus homens, está com o “cão no couro”, comandando, disparando e mandando buscar cachaça nas bodegas da pequena vila de Patos de Princesa para “esquentar” seus “cabras”. Esta cachaça era trazida em sacos, distribuída francamente entre seus combatentes. Até hoje se comenta na região como os distribuidores da bebida terminaram os combates totalmente embriagados e sem dispararem um só tiro.

O tiroteio é cerrado. Colocar a cabeça muito exposta nas janelas do casarão é motivo para que algum policial se torne um alvo fácil. Já os homens de Diniz continuam disparando sem cessar. Eles estão espalhados em todo o perímetro, protegidos por árvores, pedras, pelos muros e paredes das poucas casas vizinhas.

O combate prolongou-se até as dezesseis horas do mesmo dia, quando a polícia praticamente estava sem munição e seus disparos tornam-se esparsos. É quando os homens de Marcolino, aproveitando uma forte chuva que desabava e a existência de um canavial nas imediações do casarão, partem para o assalto final.

Durante a invasão é travado um forte combate corpo a corpo em cada uma das dependências da casa. Gritos, pancadas, socos, pontapés, dentadas, tiros, facadas e sons de lutas ocupam o ambiente. Os homens de Quelé procuram à fuga, mas estando o casarão cercado, muitos são abatidos impiedosamente pelos combatentes de Marcolino. 

Alguns policiais fugiam, feridos ou não, pelo mesmo canavial que serviu de abrigo para os atacantes e de lá seguiam para a serra do Pau Ferrado. Nesta fuga, muitos combatentes se cruzavam, às vezes cara a cara, dentro do canavial e tiros ou facadas eram desferidas a curta distância.

Marcolino, atiçado pela bebida e já dentro do casarão, prometia aos gritos “vou sangrar todo mundo, até Xandu” que no seu entendimento de valentão do sertão, com um pensamento extremamente machista, imaginava que a sua mulher já havia sido estuprada e aí só “sangrando para limpar o corpo”. Mas Xandu e as outras mulheres estavam bem e foram preservadas por Quelé e seus homens. Todas estavam em um quarto, acompanhadas de um soldado ferido na perna, que conseguira desarmar uma bomba (ou granada?), que o sargento Quelé colocara no recinto. O soldado salvou a vida das reféns, sendo igualmente salvo pelas mulheres de ser impiedosamente sangrado por Marcolino e seus “cabras”.

Após isto, Marcolino e seus homens seguiram pelos vários recintos do “Casarão dos Patos”, chacinando os policiais que não fugiram. Dos militares que lá dentro se encontravam, não sobrou nenhum vivo, pois até o soldado que havia salvado as mulheres, morreu no mesmo dia, devido aos ferimentos, quando era transportado para a vizinha cidade pernambucana de Triunfo.

Segundo relatos dos moradores da região, havia até recentemente, em alguns quartos da casa, registros de mãos ensangüentadas nas paredes, mostrando a agonia deste dia terrível.

Quanto a Quelé, vendo-se acossado pelos homens de Marcolino e escutando o próprio caudilho dos Patos de Princesa gritando dentro do casarão que “queria pegar Clementino e matá-lo sangrado”, pulou do andar superior, juntamente com dois soldados e juntos fugiram em direção ao canavial. Já era noite quando conseguiram chegar à serra do Pau Ferrado, depois seguem para Alagoa Nova e ao encontro das forças de João Pessoa. O restante dos militares que escapou com vida embrenhou-se em território pernambucano.

O resultado do combate e o fim da guerra

Das forças de José Pereira e Marcolino Diniz houve apenas uma baixa, um senhor de nome Sinhô Salviano, possivelmente sob efeito da cachaça, desprezou as ordens e ficou sob a mira dos soldados. 

Para alguns pesquisadores, as forças paraibanas perderam mais da metade do efetivo, mas segundo os relatos que se perpetuam na região, contados por aqueles que participaram do conflito e transmitidos para seus descendentes, foram mortos em torno de cinqüenta policiais, sendo seus corpos enterrados em uma vala comum nas proximidades do casarão. Os equipamentos bélicos dos policiais mortos foram recolhidos pelos combatentes de Princesa para reforço de arsenal.
 

 

Cangaceiros

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