A FUNAAD teve uma participação
coletiva em sua criação: da Comunidade manairense e da família
de Antônio Antas Diniz. A Comunidade contribuiu com o acolhimento
que lhe é singular, com a doação de bens diversos para o acervo do
Museu, e, principalmente, com o trabalho inestimável de pessoas que,
voluntariamente, dedicaram-se desde 2009 a fazê-la uma realidade. Para
constituir uma Fundação é necessária a existência de um bem em nome
dela. A família de Antônio Antas, começando por sua esposa, Luiza
Pereira da Silva (Dª Didi), e com a concordância de todos os seus
filhos, doou a casa de sua residência para permitir o nascimento da
Fundação Antônio Antas Diniz, cujos objetivos estão listados no ícone
"Fundação".
A iniciativa desse empreendimento foi de um dos filhos de Antônio Antas
e Dª Didi, Valdeny Antas Diniz, historiador, escritor e pesquisador, que
trabalha para resgatar e registrar os principais elementos da memória
histórica e cultural de Manaíra, desde a década de 1970. Junto com os
membros da Diretoria da ONG, elegeram-se os pilares
filosóficos: Cidadania, Cultura, Economia
Solidária,
Educação, Ética, Fraternidade, História... Por serem alguns dos
elementos essenciais que norteiam os objetivos e os trabalhos da Fundação.
UMA PEQUENA BIOGRAFIA
DE ANTÔNIO ANTAS DINIZ
ANTÔNIO ANTAS DINIZ
Filho de Quirino Antas Diniz e
Micolina Maria
Antas.
Nasceu no sítio Serrinha,
Manaíra / PB
em 28/01/1905
Ainda criança perdeu o pai e, juntamente
com três irmãos pequenos, ficou aos cuidados da mãe. Esta precisou
casar-se novamente para poder sustentá-los. Com muito esforço e, às
escondidas, a mãe conseguiu fazê-lo estudar. A todos o padrasto obrigava
a trabalhar como escravos e, sem suportar os mal tratos sofridos,
Antônio Antas foi morar sozinho no meio do mato. Tornou-se hábil no
manuseio do
badoque[1],
com o qual, como legítimo descendente indígena, viveu da caça, de frutos
do mato e de alguma farinha que, raramente, a mãe conseguia fazer chegar
até ele.
Tempos depois conseguiu plantar uma roça
e, do fruto dela, colocou um pequeno comércio. O comércio prosperou e,
ainda na adolescência, já conseguiu ajudar a mãe e os irmãos que viviam
na penúria.
Expandiu suas atividades econômicas como
vendedor ambulante e foi desenvolvendo o comércio até constituir uma
pequena rede de lojas nas localidades de Nova Olinda, Misericórdia e
Alagoa Nova. Negociava com tecidos e com itens de difícil aquisição no
mercado regional como chapéus, máquinas de costura, rádios e também
gêneros alimentícios.
Posteriormente adicionou às suas
atividades a agricultura, a criação de gado e destacou-se na
comercialização de algodão, mamona e cereais.
Muito sensível à área cultural, trouxe
para Manaíra o primeiro rádio, que servia para informar à população
sobre as notícias do Estado, do País e do mundo. Abriu uma salão para
festas da comunidade onde, além de artistas da música regional, o rádio
também fazia sucesso e era preferido e requisitado para os bailes da
época onde animava as danças com os estilos mais diversificados.
Adquiriu uma difusora, com a qual
divulgava as notícias para informação da população e fazia programas
musicais para diversão de quantos apreciassem a boa música da época.
Símbolo de seriedade, humildade e
honestidade, inscreveu-se na memória dos conterrâneos como líder, modelo
de homem, de pai de família, de comerciante e de político.
Na área política tornou-se o
representante de Manaíra, que era uma Vila, distrito vinculado à
Princesa Isabel, na Paraíba. Foi vereador em vários mandatos e
presidente da Câmara Municipal de Princesa. Promoveu as primeiras obras
públicas da localidade como a “passagem molhada” e arrimo de pedras
conhecidos como “Barrocão”; foi responsável pela abertura de várias
estradas, pela construção do cemitério que ainda hoje serve Manaíra e
pela manutenção da Lagoa, que fica no centro da localidade. Doou o
prédio para instalação do primeiro motor a diesel, que gerava energia e
iluminava a rua principal no início das noites.
Tinha relacionamento pessoal com diversos
políticos do estado como Plínio Lemos, José Américo de Almeida, Pedro
Moreno Gondim e Wilson Leite Braga, a quem hospedava com cortezia,
principalmente nas épocas eleitorais.
Como presidente da Câmara Municipal de
Princesa Isabel, sua principal conquista foi influenciar os dirigentes
locais até conseguir a aprovação da emancipação política de Manaíra,
causa abraçada pelos manairenses e amigos da região.
Princesa Isabel, várias décadas atrás,
muito dependia da economia de Manaíra, principalmente pela produção de
algodão, cereais e de gado. Os políticos de Princesa não queriam a
emancipação de Manaíra, pois seria prejudicial a eles e à economia da
Cidade Sede. Após muitas críticas e perseguições, Antônio Antas, em
nítido ato de coragem, declarou aos líderes do seu partido: “Nada quero
para mim, quero o melhor para o meu povo. Vocês escolham: fazemos a
emancipação de Manaíra ou romperemos com o Partido”.
As famílias Diniz e Maia mantinham o
controle político de Princesa e não queriam perder os votos de Manaíra,
representados por Antônio Antas, da União Democrática Nacional – UDN, e
até os da oposição, representados por Félix da Silva Cabral. Aceitaram,
constrangidos, apoiar a emancipação. Foi uma grande vitória para os
manairenses.
Em 1959, Antônio Antas, o deputado
Antônio Nominando Diniz e seus assessores elaboraram o Projeto de Lei
que foi protocolado com o nº 312/59, na Assembleia Legislativa do Estado
da Paraíba, formalmente apresentado e defendido por Nominando. A
Assembleia aprovou integralmente o Projeto, transformando-o no Decreto
Legislativo nº 499, de 15 dezembro de 1961.
Segundo o Jornal A UNIÃO (publicação de
23/12/1961), estavam presentes, em João Pessoa, na solenidade da
emancipação de Manaíra, além do governador Pedro Moreno Gondim,
deputados e líderes políticos paraibanos, os manairenses Antônio
Antas Diniz - Presidente da Câmara de Vereadores de Princesa Isabel
-, Francisco Antas Cordeiro e Luis de Sousa Primo. De
Princesa Isabel, estavam presentes o prefeito Antônio Maia, Nominando
Muniz Diniz e o deputado Antônio Nominando Diniz, entre outros.
Algumas das palavras proferidas naquela
solenidade, referentes à Manaíra e a Juru, que também estava se
emancipando naquele momento:
Deputado Nominando Diniz:
“A massa camponesa retoma novos horizontes
nesta alvorada, em sua luta contra o esquecimento e a fome”.
O governador Pedro Gondim
advertiu aos dirigentes dos novos municípios sobre a imensa
responsabilidade que lhes pesa, afirmando que as comunas agora criadas
já estavam amadurecidas em sua condição social e política.
Para administrar Manaíra, como primeiro
prefeito, foi oferecido o cargo a Antônio Antas, que não aceitou a
nomeação por parte do governador. Entretanto, ele indicou o sobrinho
Adalberto Pereira Barbosa, que teve a concordância do governo e foi
nomeado. Formalmente a Câmara Municipal de Princesa Isabel ofereceu
cinco nomes, mas prevaleceu a indicação de Antônio Antas.
O líder manairense gostava de política,
pois era uma forma de beneficiar o povo, mas não gostava de cargos ou
títulos políticos. Quiseram que ele se candidatasse para o próximo
mandato ao Executivo Municipal e ele recusou-se. Após muita insistência,
Nominando Muniz Diniz e alguns políticos de Princesa e Manaíra
conseguiram arrancar dele uma promessa. Fariam um sorteio entre 10
pessoas e, aquele que fosse sorteado, seria o candidato. Nominando usou
o artifício de preencher as 10 fichas, todas com o nome de Antônio
Antas. Feito o sorteio, o resultado não poderia ser diferente, saiu o
nome dele. Entristecido, pois não queria candidatar-se, declarou que,
mesmo assim, honraria a palavra dada. Somente tempos depois é que ficou
sabendo a verdade e já não podia mais voltar atrás.
A campanha eleitoral transcorreu com as
irregularidades habituais de muitos políticos, práticas que Antônio
Antas não quis utilizar-se. Foram dificultadores de sua campanha:
·
Uso da compra de votos, pela oposição.
·
“Cabos eleitorais” que recebiam dinheiro
para ajudar nos trabalhos, mas que vendiam votos para a oposição.
·
Promessa de ajuda financeira para a
campanha, feita por Nominando Muniz, mas que não cumpriu.
·
Substituição das cédulas de votação no próprio dia da eleição, através
do método que era conhecido na época como “voto de rosário”[2].
No final do dia as urnas foram recolhidas
em um depósito, para viajar no dia seguinte, quando haveria a apuração.
Um afilhado de Antônio Antas chegou para ele e disse: “Meu padrinho,
trocaram muitos votos do senhor e compraram as cédulas de votação que
foram adulteradas para beneficiar o outro candidato. Estou com a chave
do depósito das urnas, tenho as cédulas de votação e, como presidente da
mesa, posso assiná-las. Vamos lá, fazer a troca dos votos do outro
candidato pelos seus, como ele fez hoje, em benefício próprio, durante o
dia”.
Antônio Antas disse: “Prefiro perder a
eleição a me servir de uma atitude desonesta”. Essa postura o fez perder
o pleito por 63 votos. Endividado, vendeu duas fazendas que tinha, pagou
todos os seus débitos e, a partir daí, dedicou-se às suas atividades
comerciais e à educação dos filhos. Perdeu uma eleição que não queria
ter entrado, mas ganhou a admiração da família e dos correligionários
que, com orgulho, podem dizer que tiveram em seu seio um dos poucos
políticos honrados e honestos do País, palavras que são repetidas e
podem ser confirmadas, sem receio de erro, pelos manairenses de várias
gerações.
Faleceu em 21 de junho de 1986, em João
Dourado, na Bahia, onde foi homenageado com o nome de uma das principais
ruas da Cidade.
Em Manaíra, dedicaram o nome de Antônio
Antas Diniz à uma rua localizada no barro do Clube, à margem direita da
BR que liga o município à Santana de Mangueira (PB) e à uma praça que
fica à margem da Lagoa. Uma praça que está ao lado da escola Antônia
Diniz Maia ostenta uma grande placa alusiva aos 50 anos da emancipação
política da cidade, contendo seu nome como articulador do movimento que
permitiu aquela conquista. Em 2009 foi criado um Museu e uma entidade
sociocultural que leva o seu nome: Fundação Antônio Antas Diniz
-, ONG que tem por objetivos resgatar e desenvolver a cultura e a
história regionais e contribuir em aspectos sociais, ambientais e
políticos da Comunidade.
[Pesquisas e redação elaboradas por
Valdeny Antas Diniz]
[1]O badoque (ou bodoque) é feito
com um arco de madeira. São usadas 2 cordas paralelas, com
distanciadores, e, entre elas, é presa uma rede ou pano, onde é
apoiado uma pedra arredondada, ou bola de argila queimada. Não
atira flechas, era arma indígena usada para caça de aves e
pequenos animais.
[2]
O voto de rosário identifica-se pela seguinte prática: um
eleitor recebe sua célula para votar, deixa-a em branco e não a
coloca na urna. Saindo com ela, entrega ao candidato, que está à
porta, e recebe um pagamento por isso. O candidato marca o seu
próprio nome na cédula e entrega ao próximo eleitor,
orientando-o a colocá-la na urna e trazer a nova cédula em
branco, momento em que recebe um pagamento pelo “trabalho”. Esse
processo ocorreu durante todo o dia. São muitas as testemunhas
dessa ocorrência, manairenses e de outras localidades.