Ainda criança, Antônio Antas perdeu o pai e, juntamente com três irmãos
pequenos, ficou aos cuidados da mãe. Esta precisou casar-se novamente
para poder sustentá-los. Com muito esforço e, às escondidas, a mãe
conseguiu fazê-lo estudar. A todos, o padrasto obrigava a trabalhar como
escravos e, sem suportar os mal tratos sofridos, Antônio Antas foi morar
sozinho no meio do mato. Tornou-se hábil no manuseio do
badoque,
com o qual, como legítimo descendente indígena, viveu da caça, de frutos
do mato e de alguma farinha que, raramente, a mãe conseguia fazer chegar
até ele.
Tempos depois conseguiu plantar uma roça e, do fruto
dela, colocou um pequeno comércio. O comércio prosperou e, ainda na
adolescência, já conseguiu ajudar a mãe e os irmãos que viviam na
penúria.
Expandiu suas atividades econômicas como vendedor
ambulante e foi desenvolvendo o comércio até constituir uma pequena rede
de lojas nas localidades de Nova Olinda, Misericórdia e Alagoa Nova.
Negociava com tecidos e com itens de difícil aquisição no mercado
regional como chapéus, máquinas de costura, rádios e também gêneros
alimentícios.
Posteriormente adicionou às suas atividades a
agricultura, a criação de gado e destacou-se na comercialização de
algodão, mamona e cereais.
Muito sensível à área cultural, trouxe para Manaíra o
primeiro rádio, que servia para informar à população sobre as notícias
do Estado, do País e do mundo. Abriu uma salão para festas da comunidade
onde, além de artistas da música regional, o rádio também fazia sucesso
e era preferido e requisitado para os bailes da época onde animava as
danças com os estilos mais diversificados.
Adquiriu uma difusora, com a qual divulgava as notícias
para informação da população e fazia programas musicais para diversão de
quantos apreciassem a boa música da época.
Símbolo de seriedade, humildade e honestidade,
inscreveu-se na memória dos conterrâneos como líder, modelo de homem, de
pai de família, de comerciante e de político.
Na área política tornou-se o representante de Manaíra,
que era uma Vila, distrito vinculado à Princesa Isabel, na Paraíba. Foi
vereador em vários mandatos e presidente da Câmara Municipal de
Princesa. Promoveu as primeiras obras públicas da localidade como a
“passagem molhada” e arrimo de pedras conhecidos como “Barrocão”; foi
responsável pela abertura de várias estradas, pela construção do
cemitério que ainda hoje serve Manaíra e pela manutenção da Lagoa, que
fica no centro da localidade. Doou o prédio para instalação do primeiro
motor a diesel, que gerava energia e iluminava a rua principal no início
das noites.
Tinha relacionamento pessoal com diversos políticos do
estado como Plínio Lemos, José Américo de Almeida, Pedro Moreno Gondim e
Wilson Leite Braga, a quem hospedava com cortesia, principalmente nas
épocas eleitorais.
Como presidente da Câmara Municipal de Princesa Isabel,
sua principal conquista foi influenciar os dirigentes locais até
conseguir a aprovação da emancipação política de Manaíra, causa abraçada
pelos manairenses e amigos da região.
Princesa Isabel, várias décadas atrás, muito dependia da
economia de Manaíra, principalmente pela produção de algodão, cereais e
de gado. Os políticos de Princesa não queriam a emancipação de Manaíra,
pois seria prejudicial a eles e à economia da Cidade Sede. Após muitas
críticas e perseguições, Antônio Antas, em nítido ato de coragem,
declarou aos líderes do seu partido: “Nada quero para mim, quero o
melhor para o meu povo. Vocês escolham: fazemos a emancipação de Manaíra
ou romperemos com o Partido”.
As famílias Diniz e Maia mantinham o controle político
de Princesa e não queriam perder os votos de Manaíra, representados por
Antônio Antas, da União Democrática Nacional – UDN, e até os da
oposição, representados por Félix da Silva Cabral. Aceitaram,
constrangidos, apoiar a emancipação. Foi uma grande vitória para os
manairenses.
Em 1959, Antônio Antas, o deputado Antônio Nominando
Diniz e seus assessores elaboraram o Projeto de Lei que foi protocolado
com o nº 312/59, na Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba,
formalmente apresentado e defendido por Nominando. A Assembleia aprovou
integralmente o Projeto, transformando-o no Decreto Legislativo nº 499,
de 15 dezembro de 1961.
Segundo o Jornal A UNIÃO (publicação de 23/12/1961),
estavam presentes, em João Pessoa, na solenidade da emancipação de
Manaíra, além do governador Pedro Moreno Gondim, deputados e líderes
políticos paraibanos, os manairenses Antônio Antas Diniz -
Presidente da Câmara de Vereadores de Princesa Isabel -, Francisco
Antas Cordeiro e Luis de Sousa Primo. De Princesa Isabel,
estavam presentes o prefeito Antônio Maia, Nominando Muniz Diniz e o
deputado Antônio Nominando Diniz, entre outros.
Algumas das palavras proferidas naquela solenidade,
referentes à Manaíra e a Juru, que também estava se emancipando naquele
momento:
Deputado Nominando Diniz:
“A massa camponesa retoma novos horizontes nesta
alvorada, em sua luta contra o esquecimento e a fome”.
O governador Pedro Gondim
advertiu aos dirigentes dos novos municípios sobre a imensa
responsabilidade que lhes pesa, afirmando que as comunas agora criadas
já estavam amadurecidas em sua condição social e política.
Para administrar Manaíra, como primeiro prefeito, foi
oferecido o cargo a Antônio Antas, que não aceitou a nomeação por parte
do governador. Entretanto, ele indicou o sobrinho Adalberto Pereira
Barbosa, que teve a concordância do governo e foi nomeado. Formalmente
a Câmara Municipal de Princesa Isabel ofereceu cinco nomes, mas
prevaleceu a indicação de Antônio Antas.
O líder manairense gostava de política, pois era uma
forma de beneficiar o povo, mas não gostava de cargos ou títulos
políticos. Quiseram que ele se candidatasse para o próximo mandato ao
Executivo Municipal e ele recusou-se. Após muita insistência, Nominando
Muniz Diniz e alguns políticos de Princesa e Manaíra conseguiram
arrancar dele uma promessa. Fariam um sorteio entre 10 pessoas e, aquele
que fosse sorteado, seria o candidato. Nominando usou o artifício de
preencher as 10 fichas, todas com o nome de Antônio Antas. Feito o
sorteio, o resultado não poderia ser diferente, saiu o nome dele.
Entristecido, pois não queria candidatar-se, declarou que, mesmo assim,
honraria a palavra dada. Somente tempos depois é que ficou sabendo a
verdade e já não podia mais voltar atrás.
A campanha eleitoral transcorreu com as irregularidades
habituais de muitos políticos, práticas que Antônio Antas não quis
utilizar-se. Foram dificultadores de sua campanha:
·
Uso da compra de votos, pela oposição.
·
“Cabos eleitorais” que recebiam dinheiro para ajudar nos
trabalhos, mas que vendiam votos para a oposição.
·
Promessa de ajuda financeira para a campanha, feita por
Nominando Muniz, mas que não cumpriu.
·
Substituição das cédulas de votação no próprio dia da eleição, através
do método que era conhecido na época como “voto de rosário”.
No final do dia as urnas foram recolhidas em um depósito,
para viajar no dia seguinte, quando haveria a apuração. Um afilhado de
Antônio Antas chegou para ele e disse: “Meu padrinho, trocaram muitos
votos do senhor e compraram as cédulas de votação que foram adulteradas
para beneficiar o outro candidato. Estou com a chave do depósito das
urnas, tenho as cédulas de votação e, como presidente da mesa, posso
assiná-las. Vamos lá, fazer a troca dos votos do outro candidato pelos
seus, como ele fez hoje, em benefício próprio, durante o dia”.
Antônio Antas disse: “Prefiro perder a eleição a me
servir de uma atitude desonesta”. Essa postura o fez perder o pleito por
63 votos. Endividado, vendeu duas fazendas que tinha, pagou todos os
seus débitos e, a partir daí, dedicou-se às suas atividades comerciais e
à educação dos filhos. Perdeu uma eleição que não queria ter entrado,
mas ganhou a admiração da família e dos correligionários que, com
orgulho, podem dizer que tiveram em seu seio um dos poucos políticos
honrados e honestos do País, palavras que são repetidas e podem ser
confirmadas, sem receio de erro, pelos manairenses de várias gerações.
Faleceu em 21 de junho de 1986, em João Dourado, na
Bahia. Ali foi homenageado com o nome de uma das principais ruas da
Cidade.
Em Manaíra, dedicaram o nome de Antônio Antas Diniz à
uma rua localizada no barro do Clube, à margem direita da BR que liga o
município à Santana de Mangueira (PB) e à uma praça que fica à margem da
Lagoa. Uma praça que está ao lado da escola Antônia Diniz Maia ostenta
uma grande placa alusiva aos 50 anos da emancipação política da cidade,
contendo seu nome como articulador do movimento que permitiu aquela
conquista. Em 2009 foi criado um Museu e uma entidade sociocultural que
leva o seu nome: Fundação Antônio Antas Diniz -, ONG que
tem por objetivos resgatar e desenvolver a cultura e a história
regionais e contribuir em aspectos sociais, ambientais e políticos da
Comunidade.
[Pesquisas
e redação elaboradas por Valdeny Antas Diniz]
O badoque (ou bodoque) é feito
com um arco de madeira. São usadas 2 cordas paralelas, com
distanciadores, e, entre elas, é presa uma rede ou pano, onde é
apoiado uma pedra arredondada, ou bola de argila queimada. Não
atira flechas, era arma indígena usada para caça de aves e
pequenos animais.
O voto de rosário identifica-se pela seguinte prática: um
eleitor recebe sua célula para votar, deixa-a em branco e não a
coloca na urna. Saindo com ela, entrega ao candidato, que está à
porta, e recebe um pagamento por isso. O candidato marca o seu
próprio nome na cédula e entrega ao próximo eleitor,
orientando-o a colocá-la na urna e trazer a nova cédula em
branco, momento em que recebe um pagamento pelo “trabalho”. Esse
processo ocorreu durante todo o dia. São muitas as testemunhas
dessa ocorrência, manairenses e de outras localidades.
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